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Roberto Vascon, como ele é conhecido no mundo da moda, tem tantas histórias para contar que não caberiam nas mais de 1 milhão de bolsas que produziu e vendeu nos 30 anos de profissão. Vascon conheceu os extremos da vida. Sentiu frio, fome e morou na rua. Em muitos dias gelados, dormia em um banquinho de madeira no Central Park, em Nova York. Mas também jantou nos melhores restaurantes de NY, viajou de primeira classe, rodou o mundo todo, vestiu-se com as principais grifes mundiais e comprou um apartamento com varanda de frente ao banquinho onde “morou”.
“Quando eu me deitava para dormir, ficava olhando as festas no prédio em frente ao parque e imaginando o que as pessoas estavam falando, pensando…”, lembra.
Demorou pouco para descobrir. Precisou de apenas um ano na cidade para se mudar e sentir qual era a sensação de ser anfitrião nas tais festas extravagantes.
Vascon, no entanto, garante que tanto a pobreza quanto a riqueza não mudaram sua essência. “Dormir é dormir em qualquer lugar do mundo”, diz. “Durmo em um palacete do mesmo jeito que no banquinho do parque.” Ele chegou a Nova York aos 27 anos, disposto a ganhar a vida e conhecer um pouco mais do mundo. Trabalhou inicialmente como catador de latinhas, mas os centavos que colocava no bolso mal eram suficientes para se alimentar. Em uma noite gelada de 1988, estava deitado no tal banquinho do Central Park quando teve uma conversa com Deus. “Eu falei com ele: ‘Deus, o Senhor me trouxe para esta festa aqui na terra, que é a vida, e eu sou muito grato por isso. Mas nada vem dando certo. Estou muito preocupado e com medo. Se essa festa para que o Senhor me convidou continuar assim tão monótona, vazia e perigosa, eu peço que me deixe ir embora dela’”, conta, emocionado.
Em Nova York, no auge da fama: a marca Vascon, sucesso com celebridades como a cantora a cantora Madonna e a apresentadora Oprah Winfrey, chegou a ter sete lojas nos EUA e no Japão (foto: Arquivo pessoal) Em Nova York, no auge da fama: a marca Vascon, sucesso com celebridades como a cantora a cantora Madonna e a apresentadora Oprah Winfrey, chegou a ter sete lojas nos EUA e no Japão
(foto: Arquivo pessoal)
Na mesma noite, diz ter tido um sonho mágico, que deu uma guinada na trajetória de sua vida. Sonhou com uma árvore gigantesca cheia de passarinhos, que se escondiam entre galhos e folhas. Ele, então, chacoalhava o tronco e os pássaros saíam voando. Um detalhe chamou sua atenção: eles tinham formato de bolsas com asas. No dia seguinte, acordou leve e tranquilo. E decidiu ir atrás de seu sonho e fabricar bolsas. Com 80 dólares que tinha guardado, comprou tesoura, linha, agulha e couro. Fez 12 modelos pequenos, parecidos com os que tinha visto no sonho. Quando estava terminando, uma moça chegou na rua e perguntou de onde eram aquelas bolsas. Vascon explicou que eram de fabricação própria, mas ela não acreditou. “Eu, então, mostrei meus dedos furados de agulha”, diz. Ela perguntou seu nome e quis saber de onde era. Como o interrogatório continuava, Vascon ficou irritado. Afinal, a moça estava atrapalhando possíveis vendas. “Olha, estou adorando a nossa conversa, mas preciso vender as bolsas e você está tapando a visão das clientes”, disse. “E se eu comprar tudo?”, ela perguntou. “Bem, aí fico conversando com você até amanhã de manhã”, respondeu Vascon, com bom humor. Ela tirou 600 dólares e levou todas. Contou que seu nome era Nancy Harris e trabalhava na editoria de moda do jornal The New York Times. Vascon não tinha muita noção do que aquilo representava.
Antes de se despedir, Nancy falou para Vascon fabricar muitas bolsas, pois tinha clientes para ele. E passou um endereço para procurá-la. Com o dinheiro, Vascon comprou cobertor e mais material. Ficou uma semana sem dormir produzindo novas bolsas, que levou ao local combinado: o icônico edifício do jornal, na Times Square. Foi só pisar na redação que começou uma guerra pelas 40 peças. Vendeu todas e ainda posou para fotos. No dia seguinte, a surpresa. A capa do caderno de moda do jornal trazia seu retrato e o seguinte título: “The Leather Wizard” (O Mágico do Couro, em inglês). Na reportagem, foi apresentado como Mr. Vascon, um designer brasileiro recém-chegado a Nova York, que estava fabricando lindos modelos de bolsas e fazendo mágica com o couro. Foi aí, aliás, que surgiu seu “nome artístico”. Vasconcelos era complicado demais para ser reproduzido pelos americanos.
Com a mãe, Terezinha, e a irmã, Regina, em 2001: apesar do sucesso, ele garante que nunca esqueceu suas raízes(foto: Arquivo pessoal) Com a mãe, Terezinha, e a irmã, Regina, em 2001: apesar do sucesso, ele garante que nunca esqueceu suas raízes
(foto: Arquivo pessoal)
Depois da reportagem, ele participou de uma feira de pulgas no domingo de manhã. As 20 bolsas que levou evaporaram, voaram como no sonho mágico. Clientes fizeram filas e pagaram adiantado pelas encomendas. Cada peça já estava sendo vendida por 150 a 200 dólares. A imagem de Vascon e das bolsas passou a ser estampada em toda a mídia. Com o dinheiro recebido, ele realizou mais um sonho: uma noite num hotel, dormindo em cama confortável. Ele se deu ao luxo também de comer em um restaurante que namorava há tempos, o Café Luxembourg. Pediu couvert e fettuccine ao molho de camarão. Enquanto saboreava o que chamou de “refeição de rei”, planejou os próximos passos: comprar uma casa melhor para a mãe, que vivia no Brasil, e abrir a primeira loja. A Roberto Vascon Handbags foi montada no Village, em Manhattan. Ele trabalhava sozinho e morava nos fundos da loja. Eram noites sem dormir para conseguir entregar as encomendas. Logo, celebridades como a atriz Kathleen Turner, a apresentadora Oprah Winfrey e as cantoras Madonna, Cyndi Lauper, Aretha Franklin e Roberta Flack circularam com suas criações.
A notícia do morador de rua que virou empresário continuou se espalhando e cruzou o mundo. Empresários japoneses o procuraram para usar seu nome em uma linha de produtos. Na época, o designer estava precisando de 10 mil dólares para comprar uma máquina de costura. Achou que a negociação viria a calhar. Ao chegar, já foi logo avisando: não “emprestaria” seu nome por menos de 10. Os japoneses foram duro na queda e garantiram que não pagariam mais de 1 milhão. A ficha caiu. “Milhão?”, pensou. Fecharam o negócio por 1,5 milhão de dólares. Vascon estava milionário. Sua primeira providência foi comprar um apartamento de frente para o banquinho onde dormiu, no Central Park, com luxos como lareira revestida de mármore e quarto de hóspedes. O mágico do couro foi capa do Women´s Wear Daily (WWD), jornal conhecido por ser a “Bíblia da moda” americana, e destaque no Le Monde, de Paris, além de ter perfil estampado nas revistas Vogue e New York e participar de programas de televisão mundo afora. E não demorou muito para chegar a ter sete lojas nos Estados Unidos e Japão.
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